13/03/2025
Mudança de uso da terra impacta no carbono do solo. Pesquisadores avaliam 39 anos de conversões de uso da terra (pastagem, plantio direto e integração lavoura-pecuária-floresta) no Instituto de Zootecnia

Um recente estudo feito por pesquisadores da Agência
Paulista de Tecnologia dos Agronegócios – APTA e da Embrapa Meio Ambiente,
parte do projeto “Melhorando o manejo da pastagem como “solução baseada na
natureza” para sequestro de carbono no solo, financiado pela Shell e Fapesp,
contribuiu para entender como a mudança do uso da terra impacta os estoques de
carbono (C) do solo no Brasil e sua relação com as mudanças climáticas globais.
A pesquisa analisou a conversão de floresta (Mata Atlântica) em pastagens não
manejadas e, posteriormente, a conversão dessas áreas em lavouras de soja ou em
sistemas integrados de lavoura, pecuária e floresta (iLPF).
Conduzido no Instituto de Zootecnia (IZ), em Nova Odessa,
SP, o trabalho revelou que as conversões de floresta para pastagem e de
pastagem para usos agrícola ou sistema de integração influenciam o estoque de C
no solo. Utilizando imagens do Google Earth e análises laboratoriais,
pesquisadores observaram impactos ao longo de 39 anos, evidenciando a
interferência de efeitos de borda nos fragmentos de floresta e a contribuição
dos sistemas conservacionistas para o sequestro de carbono.
De acordo com Rafaela Ferraz Molina, em sua dissertação, a
conversão de floresta para pastagem aumentou o carbono orgânico do solo apenas
na superfície, sem mudança em subsuperfície. Cabe mencionar que os fragmentos
de Mata Atlântica avaliados na pesquisa tem forte influência antrópica, estando
próximos das cidades e sujeitos e eventos de fogo ao longo dos anos, situação
comum no Estado de São Paulo.
“Já a mudança de uso da terra de pastagem para o sistema
iLPF elevou os estoques de C ao longo do perfil do solo até 1 m de
profundidade, indicando boa contribuição para o sequestro de C e colocando o
sistema integrado com alternativa no combate ao desafio climático. O iLPF
demonstrou taxa média de acúmulo de carbono no solo 5 ton por ha ano. Em
contraste, o cultivo de soja em plantio direto manteve o estoque de C do solo
sob pastagem, sem ganhos ou perdas”, explica Molina.
O estudo destaca que sistemas conservacionistas, como o iLPF
e o plantio direto, são alternativas sustentáveis para a agricultura
brasileira. O iLPF favorece o acúmulo do carbono no solo, o que significa
retirar CO2 da atmosfera. Atualmente, o Brasil tem 33,5% de seu território
ocupado pela agropecuária, setor que contribuiu com 23,8% do PIB nacional em
2023 e 49% das exportações do país.
Especialistas alertam que a mudança do uso da terra foi
responsável por 41,4% das emissões totais do setor agropecuário no Brasil. Desde
1750, a concentração de CO₂ na atmosfera aumentou, mas parte desse carbono pode
ser capturada pelo solo e pelos oceanos. Estratégias que incentivem a adoção de
sistemas sustentáveis são fundamentais para mitigar os impactos ambientais da
agropecuária e garantir a produção agrícola a longo prazo.
A dinâmica dos estoques de carbono do solo está diretamente
ligada a fatores como clima, tipo de solo e mudança no uso da terra. No Brasil,
a conversão de vegetação nativa para pastagem tem sido uma das mudanças mais
impactantes. De acordo com o MapBiomas, entre 1985 e 2023, 84,1% das novas
áreas de pastagem foram abertas em locais antes cobertos por vegetação nativa.
Estudos indicam que pastagens manejadas corretamente podem
aumentar os estoques de carbono, enquanto pastos degradados tendem a perder
esse recurso. A adoção de sistemas integrados, como a Integração
Lavoura-Pecuária-Floresta, tem demonstrado potencial para reverter esse
cenário, promovendo a retenção de carbono e a conservação do solo.
Para Sandra Furlan, pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente e
coorientadora do estudo, o Sistema de Plantio Direto em grãos também se mostra
uma alternativa eficaz para mitigar a perda de carbono, por se tratar de uma
prática que não revolve o solo e permite manter ou acumular o C estocado. Entre
2006 e 2017, áreas sob este sistema cresceram 84,9%, atingindo 33 milhões de
hectares em 2018.
Para incentivar práticas sustentáveis, o Plano ABC+
(2021-2030) visa ampliar o uso de tecnologias agrícolas de baixa emissão de carbono,
como a recuperação de pastagens degradadas e a adoção de sistemas
agroflorestais. O avanço dessas iniciativas pode garantir um equilíbrio entre a
produção agropecuária e a conservação ambiental no Brasil.
Os resultados reforçam o papel das pastagens no
armazenamento de carbono no solo, a questão de fragmentos de mata altamente
impactados pela ação do homem, e destacam o potencial de sistemas
conservacionistas e bem manejados na captura de carbono pelas plantas e
estabilização de parte desse C no solo. O estudo indica que sistemas
integrados, como o iLPF, podem aumentar a resiliência da agropecuária frente às
mudanças climáticas, ao mesmo tempo em que contribuem para a sustentabilidade
da produção agrícola e pecuária.
Equipe - Rafaela Ferraz Molina, orientador Waldssimiler
Teixeira de Mattos, Co-orientadora Sandra Furlan Nogueira, dissertação
apresentada ao Programa de Pós-graduação do Instituto de Zootecnia, APTA/SAA.
Cristina Tordin(MTB 28499/SP)
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Alexandra Cordeiro
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